DO CENTENÁRIO ÀS OBRAS
Cem anos após a inauguração, a
Praça de Toiros do Campo Pequeno apresentava evidentes sinais de degradação,
tornando-se, cada vez mais urgente, a reabilitação do edifício, correndo-se até
o risco de este, e à semelhança do que acontecera com a praça de toiros do
Campo de Santana, vir a ser encerrado pelas entidades competentes.
Para lhe melhorar o aspecto e proceder a obras de todo inadiáveis, o edifício foi alvo de uma intervenção que arrastou o início da temporada (tradicionalmente o Dominou de Páscoa) para 17 de Junho de 1993. No cartel, os nomes dos portugueses João e António Ribeiro Telles e os irmãos Luís e António Domecq, numa noite de "Portugal-Espanha" em que a dupla portuguesa saiu claramente vencedora. Tal foi o êxito do cartel que foi repetido a 22 de Julho, mas desta vez com clara vitória dos irmãos Domecq. A temporada de 1993 marca ainda a estreia no Campo Pequeno dos rojoneadores espanhóis Ginés Cartagena e Javier Mayoral.
De 1993 até 1999, as grandes figuras do toureio de Espanha marcam presença no Campo Pequeno, lado a lado com uma geração emergente de cavaleiros portugueses e de forcados, uns e outros perpetuando dinastias, paralelamente ao surgimento de novos valores. Neste período estreiam-se no Campo Pequeno os matadores Julián Lopez "El Juli", José Tomás, Jesus Janeiro "Jesulín de Ubrique", Emílio Muñoz, Juan Serrano "Finito de Córdoba", Javier Vasquez, Manuel Caballero, Juan António Ruiz "Espartaco", Francisco Rivera Ordoñez, José Pedro Prados "El Fundi", Cristina Sanchez, "Chamaco" e António Ferrera, que competem com os portugueses, Vítor Mendes, Rui Bento, Eduardo Oliveira, Alexandre Pedro "Pedrito de Portugal" e Mário Vizeu Coelho.
Algumas datas ficaram mesmo gravadas no já longo historial do Campo Pequeno:
- 14 de Julho de 1994: estreia do rojoneador espanhol Pablo Hermoso de Mendoza;
- 21 de Julho de 1994: Estreia de "Pedrito de Portugal" como Matador de Toiros;
- 13 de Junho de 1995: "Pedrito de Portugal" lida, como único espada, um curro da divisa espanhola de Santiago Domecq, em noite de apoteose;
- 7 de Setembro de 1995: "Espartaco", Vitor Mendes e "Pedrito de Portugal" lidam um curro de Los Guateles, saindo triunfador Vítor Mendes;
- 28 de Setembro de 1995: Homenagem internacional a Manuel dos Santos;
- 11 de Julho de 1996: Apresentação da Matadora de Toiros espanhola Cristina Sanchez, num mano-a-mano com o Cavaleiro João Moura;
- 7 de Agosto de 1997: Estreia de José Tomás;
- 3 de Outubro de 1997: Despedida do Bandarilheiro Ludovino Bacatum;
- 4 de Julho de 1998: Mário Miguel lida seis reses da ganadaria Palha Blanco, sendo três toiros lidados e cavalo e três novilhos lidados a pé;
- 16 de Julho de 1998: Estreia de Julián Lopez "El Juli";
- 30 de Julho de 1998. Seis toiros de Joaquim Grave para os matadores "El Fundi", "Chamaco" e Rui Bento Vazquez;
- 10 de Setembro de 1998: Apresentação no Campo Pequeno da cavaleira Ana Batista;
- 8 de Outubro de 1998: Despedida do Matador de Toiros Vítor Mendes, num mano-a-mano com o Cavaleiro João Moura. Pegaram, os Forcados Amadores de Vila Franca e lidaram-se toiros das ganadarias de Palha Blanco, Conde de Cabral, Bernardino Piriz, Ascensão Vaz, Fermín Bohorquez e João Moura;
- 15 de Julho de 1999: O Cavaleiro João Salgueiro e o Matador espanhol "El Juli" saem em ombros.
Devido à acentuada degradação da
praça, em 2000 apenas se realizaram duas corridas. A 8 de Julho, a de
apresentação do Matador espanhol José António Morante de la Puebla", num mano-a-mano
com o Cavaleiro João Moura. Pegaram os Forcados Amadores de Vila Franca e
lidaram-se três toiros da ganadaria Vinhas e três da ganadaria de Cunhal
Patrício. A temporada terminou, prematuramente, a 13 de Julho. Actuaram os
cavaleiros Paulo Caetano. João Salgueiro e Rui Fernandes e o praticante João
Moura Caetano. Pegaram os Grupos de Forcados Amadores de Montemor e de Vila
Franca e foram lidados sete toiros de Paulo Caetano.
2000-2006 AS OBRAS DE RESTAURO E REQUALIFICAÇÃO DO CAMPO PEQUENO
Foram seis anos o tempo que
demorou a viabilizar o projecto de restauro e requalificação da Praça de Toiros
do Campo Pequeno e dos espaços circundantes.
O projecto, apresentado pela Sociedade de Renovação Urbana Campo Pequeno, SA (SRUCP, SA) fora aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa a 28 de Setembro de 1995. A constituição do Direito de Superfície pelo qual a Casa Pia (proprietária do imóvel) autorizou a SRUCP, SA a construir nos seus terrenos, data de 19 de Junho de 1997.
Os trabalhos só se iniciaram no ano 2000, com base num projecto dos arquitectos José Bruchy, Pedro Fidalgo, Filomena Vicente e Lourenço Vicente. Com base nesse projecto foi reabilitado e modernizado o espaço da praça de toiros, criada uma zona comercial e um parque de estacionamento subterrâneos. Da modernização da praça de toiros ressalta a instalação da cobertura parcialmente amovível (Projecto da autoria do Arquitecto João Goes Ferreira), que permite a utilização do espaço independentemente das condições atmosféricas e para outro tipo de espectáculos, para além dos tauromáquicos. A cobertura é composta por uma parte fixa sobre as bancadas e uma outra retráctil, em vidro, sobre a arena. Foram ainda instaladas cadeiras em todos os lugares da praça (o que motivou a redução da sua capacidade de 8200 para 7000 espectadores) e os torreões restituídos à sua cor primitiva: o azul-turquesa.
A nível da infra-estrutura tauromáquica procedeu-se a uma profunda reestruturação, que abrangeu as cavalariças, a enfermaria, a capela e os curros. Do racional aproveitamento do espaço resultou ainda a criação de uma zona vasta zona de serviços, entre os torreões Norte (curros) e Nascente (entrada de artistas), com instalações próprias ou beneficiando da flexibilidade da conversão de partes da infra-estrutura da tauromaquia, que facilmente são postas ao serviço de outro tipo de eventos. Na actual arquitectura, as cavalariças possuem espaço para a acomodação de 24 cavalos, a capela foi transferida para a zona de serviços, tal como a enfermaria. Os curros, com capacidade para 10 reses, foram dotados de grande funcionalidade e criado ainda o pátio de reconhecimento veterinário. As fachadas da praça foram recuperadas e toda a estrutura reforçada.
Lisboa ganhou assim uma nova sala de espectáculos polivalente, integrada numa infra-estrutura que engloba:
Restaurantes na Praça de Toiros: 2144 m2
Bares na Praça de Toiros: 829 m2
Restaurantes e cafetarias na
Galeria Comercial: 16
Salas de Cinema: 8
Área comercial: 7000 m2
Lugares de estacionamento: 1250
lugares
16 de Maio de 2006: A MAGIA DO RENOVADO CAMPO PEQUENO
O renovado Campo Pequeno reabriu
as suas aportas na noite mágica de 16 de Maio de 2006, com um espectáculo de
música, canto, dança e tauromaquia, produzido por Filipe La Féria e no qual ficaram bem
patentes ao público que assistiu "in loco" ou aos que, em suas casas o viram
através da RTP, as potencialidades do novo espaço. Deslumbrante é a palavra que
melhor caracteriza o que se passou no Campo Pequeno. A vertente tauromáquica
foi assegurada pelo Cavaleiro Luís Miguel da Veiga e pelo Matador Alexandre
Pedro "Pedrito de Portugal" e pelos Forcados Amadores de Évora. Veiga lidou um
toiro de Pégoras e "Pedrito" um dos Herdeiros de Varela Crujo. O espectáculo
encerrou com o Hino Nacional executado em simultâneo pelas Bandas do Exército,
Força Aérea e Armada.
A 18 de Maio realizou-se a primeira corrida de toiros da "nova era", com a gestão tauromáquica a cargo do Matador de Toiros retirado, Rui Bento. Cavaleiros António Ribeiro Telles, João Moura e Rui Fernandes, os Grupos de Forcados amadores de Santarém, Montemor e Lisboa, capitaneados respectivamente por Pedro Graciosa, Rodrigo Corrêa de Sá e José Luís Gomes e seis toiros da ganadaria Vinhas. Lotação esgotada! Nova lotação esgotada no dia 25 de Maio, com um cartaz composto pelo Rojoneador espanhol Pablo Hermoso de Mendoza e pelos Matadores Vítor Mendes, que se vestiu de "luces" especialmente para esta ocasião e o espanhol Julián Lopez "El Juli". As pegas estiveram a cargo do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca e os toiros pertenciam às ganadarias de Rosa Rodrigues (lide a cavalo) e Ortigão Costa (lide a pé). O ciclo inaugural encerrou a 1 de Junho, com uma novilhada em que actuaram os cavaleiros praticantes Manuel Lupi, Manuel Ribeiro Telles Bastos e Marcos Bastinhas, os novilheiros Mário Miguel, António João Ferreira e Nuno Casquinha e os Forcados Amadores da Chamusca. Os novilhos pertenciam à ganadaria dos herdeiros de Cunhal Patrício.
A temporada de 2006
Na quinta-feira seguinte (8 de
Junho), tomou alternativa João Moura Caetano, concedida por seu pai, Paulo
Caetano, na presença António Ribeiro Telles, Luís Rouxinol, Rui Salvador e João
Salgueiro. Pegaram os Grupos de Forcados Amadores de Alcochete e do Aposento da
Moita. Foi uma corrida concurso de ganadarias, na qual participaram as divisas
de Vinhas, Conde de Cabral, Maria Guiomar Cortes Moura, Ortigão Costa, Passanha
e Paulo Caetano. Os tórios de Passanha e de Maria Guiomar Cortes Moura
ganharam, respectivamente, os prémios de bravura e apresentação.
Para além do ciclo inaugural, registaram-se as estreias de João Moura filho (6 de Julho), dos Matadores espanhóis Enrique Ponce (6 de Julho), Eduardo Gallo (27 de Julho) e o francês Sebastián Castella (21 de Setembro) e dos portugueses Luís Vital "Procuna" e Nuno "Velasquez" (10 de Agosto). Todos os matadores calaram fundo nos aficionados Lisboetas e, apesar de a nenhum deles ter saído o toiro para o triunfo, inventaram faenas. O público agradeceu-lhes com enormes ovações e "proclamou-os" figuras do toureio, como já o fizera anteriormente a Mendes e a "El Juli". Importantes foram também as históricas saídas em ombros de Vitor Ribeiro, a primeira de um cavaleiro no novo Campo Pequeno (29 de Junho) e de Luís Rouxinol (3 de Agosto). A corrida de alternativa de Manuel Ribeiro Telles, em plano de figura, a 7 de Setembro, concedida por seu avô, Mestre David Ribeiro Telles, ficará para a posteridade como uma das corridas mais importantes da história de Campo Pequeno, cuja temporada revelou outros dois cavaleiros para o futuro: Manuel Lupi y Duarte Pinto. Deram-se oportunidades a jovens cavaleiros e houve a digna confirmação de alternativa do rojoneador espanhol Sergio Vegas (3 de Agosto). Estreou-se a cavaleira amadora Isabel Ramos, a 10 de Agosto.
A temporada de 2007
A temporada de 2007 registou duas inovações: O
concurso "à Procura de Novos Toureiros" e a "Feira Taurina de Lisboa".
O concurso teve por "Padrinhos" os Matadores de Toiros Rui Bento e José Luís Gonçalves, que tinha sido os vencedores do último concurso do género, realizado no Campo Pequeno, 25 anos antes. Movimentou cerca de sessenta jovens e iniciou-se com uma "Aula Prática", no Campo Pequeno, dividida em duas sessões: A primeira, com Toureio de Salão, no sábado dia 6 de Janeiro e a segunda, no domingo, com uma tenta pública. Prosseguiu nas semanas seguintes, em fases eliminatórias, nas várias ganadarias que se associaram ao projecto. A final realizou-se no dia 20 de Fevereiro, sagrando-se vencedor Filipe Proença "Chamaco".
A feira Taurina de Lisboa decorreu nos dias 3, 4 e 5 de Maio, com uma corrida à portuguesa no primeiro dia, uma corrida com matadores no segundo e uma novilhada de promoção de novos valores no terceiro dia.
Na corrida de abertura da feira, tomou a alternativa João Moura Júnior numa noite de casa cheia "até à bandeira", apadrinhado por seu pai, o Maestro João Moura e com o testemunho de Pablo Hermoso de Mendoza. Lidaram-se toiros de Romão Tenório e pegaram os forcados de Santarém e de Portalegre. O resultado foi um triunfo total dos três cavaleiros que saíram em ombros pela porta grande, facto inédito na praça de Lisboa.
A segunda corrida da feira tinha no cartel os matadores espanhóis Enrique Ponce e "El Juli" e o português José Luís Gonçalves e toiros dos Herdeiros de Varela Crujo. Ponce saiu em ombros. Registaram-se duas colhidas de certa gravidade de dois bandrilheiros: A de Mariano de la Viña, da quadrilha de Ponce e a de Alejandro Escobar, da quadrilha de "El Juli".
A novilhada, no dia 5 de Maio, trouxe ao Campo Pequeno os cavaleiros praticantes Francisco Palha e Tomás Pinto, bem como o novilheiro espanhol Miguel Tendero e os três primeiros classificados do concurso "à Procura de Novos Toureiros", Gonçalo Montoya, Manuel Dias Gomes e Filipe Proença "Chamaco". Pegaram os Forcados Amadores de Alcochete e foram lidados seis novilhos de Manuel Veiga.
Em 2007 tentou-se fazer reviver a tradição dos espectáculos cómico-taurinos, no Carnaval e da corrida de inauguração da temporada no Domingo de Páscoa.
No que respeita a estreias de matadores, assinalam-se as do espanhol Pedro Guiterrez "El Capea" no Domingo de Páscoa (8 de Abril) e do francês Juan Bautista (20 de Setembro).
A temporada teve excelentes momentos de toureio a cavalo protagonizados pelas maiores figuras de Portugal e de Espanha, com destaque para além da corrida de alternativa de João Moura Júnior, a corrida de Gala à Antiga Portuguesa, a do Sporting Clube de Portugal e a de encerramento do abono.
A corrida de Gala à Antiga Portuguesa, a 9 de Agosto e com lotação esgotada e transmissão em directo pela RTP, foi todo um espectáculo pela reconstituição histórica e pelo grande nível das actuações dos cavaleiros Joaquim Bastinhas, António Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol, João Moura Caetano e João Telles Júnior, bem como dos forcados amadores de Santarém, Lisboa e Aposento da Moita, que se exibiram ante um magnífico curro de Pinto Barreiros.
A 30 de Agosto (Sporting) a praça voltou a encher-se para presenciar as actuações de Joaquim Bastinhas, João Moura Júnior e Moura Júnior e João Telles Júnior e dos forcados de Lisboa, Coruche e Portalegre, ante toiros de Pégoras, numa corrida em que o triunfo voltou a sorrir a artistas e ganadero.
O encerramento do abono, a 4 de Outubro, foi uma grande noite de toiros pelo confronto entre as dinastias Telles e Moura, Numa noite que constituiu um hino ao toureio a cavalo pelo brilhantismo e vontade de triunfar com que se exibirão dos estilos que, em vez de se oporem, se complementam. Em bom plano estiveram igualmente os forcados de Vila Franca e valentes os de Coruche. Registou-se ainda o triunfo do ganadero Romão Tenório, que foi chamado à arena.
Dos consagrados, João Moura por mais de uma vez "explicou" o porquê de una carreira de 30 anos como primeira figura. Pablo Hermoso de Mendoza esteve insuperável a 3 de Maio, uma noite em que tudo lhe saiu perfeito. Equitação e lides para recordar por muitos anos. Bastinhas continua como um caso impar de popularidade e reconhecimento por parte do público. António Telles, o máximo representante da escola clássica, teve momentos muito bons, Rui Salvador apresentou-se com grande sobriedade, ao passo que Rouxinol destacou-se pelo poderio do seu toureio. João Salgueiro fez do melhor e do pior que se viu durante a temporada, algo que quase lhe ia custando a vida, pela insensata atitude ao desafiar o toiro a corpo limpo depois de se ter apeado do cavalo no centro da arena. Ana Batista teve uma presença interessante e Sónia Matias sentiu algumas dificuldades na sua passagem pelo Campo Pequeno. Rui Fernandes e Vítor Ribeiro não conseguiram actuações em linha com as expectativas que criaram.
Outros, menos vistos em Lisboa, aproveitaram a oportunidade para "dizer" que se pode contar com eles: Manuel Jorge de Oliveira, que comemorava 30 anos de alternativa surpreendeu pela raça, temperada de classicismo, do seu toureio. Em bom plano também estiveram Francisco Núncio e, sobretudo, José Manuel Duarte.
Tomou a alternativa, a 19 de Junho, o cavaleiro mexicano Gastón Santos que deixou muito bom ambiente e que, inclusivamente, repetiu no Campo Pequeno.
Dos jovens, Moura Júnior e João Telles Júnior tiveram actuações triunfais. Duas grandes actuações registou também João Moura Caetano. Manuel Ribeiro Telles Bastos destacou-se num duo com Manuel Lupi. Duarte Pinto e Tomás Pinto estiveram asseados e Francisco Palha demonstrou largos progressos. Constituiu uma agradável surpresa João Salgueiro da Costa, filho de João Salgueiro, que debutou público como cavaleiro amador, a 17 de Maio e com grande êxito.
Dois jovens espanhóis confirmaram a alternativa em Lisboa: Leonardo Hernández filho, a 12 de Julho, e Sergio Domínguez a 23 de Agosto. Leonardo teve uma actuação de grande qualidade, conquistando o público pela segurança e elegância da sua equitação e pela verdade do seu toureio. Domínguez demonstrou bons conhecimentos dos terrenos, dentro de um estilo mais na linha do "rejoneo antíguo".
A temporada de 2008
A temporada teve um selo familiar
pretendendo com isto significar a continuidade de nomes ilustres do toureio a
cavalo na cena tauromáquica portuguesa.
Lupi, Bastinhas e Telles deram a alternativa aos seus descendentes. A 8 de Maio o inolvidável José Samuel Lupi, um dos "Cuatro Jinetes de la Apoteosis" doutorou o seu filho Manuel, em presença dos seus companheiros Ángel, Rafael Peralta e Álvaro Domecq e dos portugueses João Moura e Rui Fernandes. Uma noite para recordar. A 10 de Julho, Joaquim Bastinhas, que completava 25 anos de profissional, deu a alternativa ao seu filho Marcos, acompanhado de Paulo Caetano, que regressou às arenas para esta cerimónia de tão grande significado, junto ao seu filho João Moura Caetano. Os quatro estiveram enormes. Mas, a 4 de Setembro esgotaram-se os bilhetes para assistir à apoteose dos Telles. Foi a alternativa de João Ribeiro Telles Júnior, concedida pelo seu pai, na presença do seu avô, tio e primo. Deu gosto ver o grande Mestre David cavalgando garbosamente na arena, junto aos seus filhos João e António e aos seus netos Manuel e João. Não há palavras para descrever o ambiente, a emoção, o carinho que se viveu nesta ocasião. Praticou-se toureio do mais puro. Os Telles entregaram-se ao público e o público rendeu-se-lhes totalmente.
O Campo Pequeno foi também cenário para outra importante efeméride: A 5 de Junho. João Moura comemorou 30 anos de alternativa, toureando com os seus filhos João, e Miguel Moura, de 11 anos de idade, um caso raro de intuição para o toureio a cavalo, que nessa data debutou em Lisboa. Foi uma corrida de grande emoção e significado para todos os aficionados. João Moura Júnior voltou ao Campo Pequeno, a 17 de Julho para lidar seis toiros, um deles de Miura, numa noite que teria sido redonda si não tivesse insistido em lidar o sobrero, que saiu manso e sem classe.
Na inauguração da temporada, a 17 de Abril, actuou Pablo Hermoso de Mendoza, compartindo cartel com Luís Rouxinol e Moura filho. Hermoso esteve correcto mas sem a vibração da temporada anterior, Rouxinol iniciou, nesta noite, outra temporada triunfal em Lisboa que teria a sua máxima expressão a 28 de Agosto, com uma actuação que constitui um marco na sua trajectória profissional.
Num plano muito interessante esteve também Rui Salvador.
Em plano regular, passaram por Lisboa João Salgueiro, Vitor Ribeiro, Sónia Matias, Ana Batista, Manuel Jorge de Oliveira, José Manuel Duarte e Pedro Salvador.
Confirmaram a alternativa Antonio Brito Paes, a 8 de Agosto, com duas lides muito boas, sobretudo a segunda, e Paulo Jorge Santos com uma presença muito digna, a 21 de Agosto.
Dos praticantes destacou Francisco Palha, um artista de corte clássico, que se distingue antes de mais pela sua correctíssima equitação. João Salgueiro da Costa esteve algo apagado, Tiago Carreiras conheceu altos e baixos, Tiago Pinto esteve decoroso e Isabel Ramos esteve em bom nível.
Os Forcados protagonizaram momentos de extraordinária valentia e coragem, tanto a nível individual, como a nível de grupo. O prémio para a melhor pega, na corrida concurso de pegas, a 25 de Julho foi para o forcado Sérgio Pires dos Amadores de Alter do Chão. Pelo grau de dificuldade e dureza destaque também para a pega de Márcio Francisco, do grupo de Vila Franca, na corrida de encerramento da temporada, a corrida que foi de Gala à Antiga Portuguesa. Mas, todos os 19 grupos actuantes foram exemplo de valentia e abnegação.
No respeitante a ganadarias, destacaram-se as de Passanha, na noite dos Telles, a de Núncio (24 de Julho) e a de Luís Rocha (21 de Agosto). Uma palavra de apreço também para a boa novilhada de Charrua, lidada a 19 de Julho, pela sua apresentação e condições de lide.
Quanto à lide a pé, o destaque foi para a triunfal apresentação do matador espanhol Manuel de Jesus "El Cid", a 3 de Julho e a apresentação do português António João Ferreira, como Matador de Toiros, no dia 28 de Agosto, alternando com Luís Vital "Procuna". Registe-se estreia do novilheiro João Augusto Moura, a 5 de Junho, com um triunfo de porta grande e que lhe valeu a repetição a 11 de Setembro.
O público acudiu em massa ao Campo Pequeno. As quintas-feiras taurinas recuperaram definitivamente o seu "glamour". A juventude redescobriu o gosto de vira o Campo Pequeno aos toiros. Apesar de só uma vez se ter posto o cartel de "não há bilhetes", por várias vezes o papel esteve a ponto de se esgotar.
A temporada de 2009
Nunca tendo estado em causa o
papel do Campo Pequeno como a praça de toiros mais importante de Portugal, o
seu prestígio solidificou-se na temporada de 2009, mercê da apresentação da
quase totalidade dos nomes mais sonantes do toureio mundial da actualidade.
Esse facto levou a que o tauródromo lisboeta entrasse, definitivamente, no
grande circuito mundial da tauromaquia, consolidando assim o seu prestígio a
nível internacional.
Pela arena de Lisboa passaram em 2009 nomes como os do Rojoneadores espanhóis Pablo Hermoso de Mendoza, a maior figura mundial do toureio a cavalo da actualidade, e Leonardo Hernández, o maior nome da novíssima geração de rojoneadores, ambos a saírem em ombros pela porta grande, depois de actuações triunfais.
Ao Campo Pequeno regressaram os matadores espanhóis Manuel de Jesus "El Cid" e José António Morante de la Puebla e estreou-se Miguel Ángel Perera. "El Cid" sem grande fortuna, não conseguiu reeditar o êxito de 2008, mas Morante e Perera tiveram actuações muito destacadas e ao nível do seu melhor. Alternaram com os portugueses "Pedrito de Portugal" que, face aos êxitos que reeditou no Campo Pequeno, aqui actuou em três corridas, e Vítor Mendes. Mendes, Matador de Toiros retirado, uma das maiores figuras do toureio mundial nos anos oitenta e noventa do século XX, vestiu-se de "luces" para a sensacional corrida de 16 de Julho, num cartel em que participaram ainda Pablo Hermoso de Mendoza, "Pedrito de Portugal" e os forcados de Vila Franca, com toiros de Passanha, Ortigão Costa e Falé Filipe. Foi um Mendes dominador e heróico que os aficionados, que esgotaram a lotação do Campo Pequeno, aplaudiram com fervor e respeito.
O Abono estava composto por 12 corridas de toiros e um novilhada, mas a empresa organizou ainda uma corrida extraordinária, no dia 15 de Outubro, na qual se apresentou em Lisboa a ganadaria espanhola dos Herdeiros do Conde de La Corte.
Por duas vezes a empresa afixou a faixa "Não há bilhetes" (16 de Julho e 1 de Outubro, dia da Corrida de Gala à Antiga Portuguesa e última corrida de Abono), mas por mais de uma vez, a praça esteve a ponto de esgotar.
A temporada iniciou-se a 7 de Maio, com uma emocionante colhida do cavaleiro António Ribeiro Telles, pelo primeiro toiro da ordem, da ganadaria de Passanha. Felizmente a colhida não teve consequências e António arrancou daí para uma boa actuação. Mas o triunfo maior veio com Pablo Hermoso de Mendoza que saiu em ombros no final. Completaram o cartel o cavaleiro Vitor Ribeiro, com uma primeira passagem discreta por Lisboa e os forcados amadores de Lisboa e de Coruche, com uma presença digna.
Outra data importante da temporada foi a de 4 de Junho, marcada pelo regresso da ganadaria Murteira Grave ao Campo Pequeno, toiros que foram pegados pelo Grupo de Forcados Amadores de Montemor, que tiveram uma noite de autêntica consagração popular.
Noite particularmente emotiva foi a de 23 de Julho, data em que Duarte Pinto tomou a Alternativa de Cavaleiro Tauromáquico, concedida por seu pai, Emídio Pinto. Actuaram cavaleiros de três dinastias: Pinto, Caetano (Paulo e seu filho João) e Bastinhas (Joaquim e o seu filho Marcos). Como testemunhas de honra, três nomes sonantes do toureiro equestre, já retirados: Luís Miguel da Veiga, Frederico Cunha e José João Zoio. Foi uma noite de grandes emoções para público e artistas. Veiga, Cunha e Zoio puderam sentir o enorme respeito e as boas recordações que o público continua a ter dos grandes momentos de toureio que assinaram nesta praça. Para José João Zoio seria a última grande manifestação de apreço que recebeu do público do Campo Pequeno, pois viria a falece, de doença súbita, a 31 de Agosto.
Outros destaques da temporada foram a saída em ombros do cavaleiro João Salgueiro, na corrida de 9 de Julho, juntamente com Leonardo Hernández, e a Corrida de Gala à Antiga Portuguesa, que se iniciou com um imponente cortejo evocativo das touradas reais do século XVIII. Nesta corrida, cuja data coincida com o sexagésimo aniversário do Cavaleiro José João Zoio, foi disputado um troféu para a melhor lide a cavalo, com o seu nome, o qual veio a ser ganho por Luís Rouxinol.
Nesta temporada estrearam-se no Campo Pequeno os novilheiros Daniel Nunes (português) e Juan del Álamo (espanhol), a 18 de Junho, juntamente com os cavaleiros praticantes Marcelo Mendes e Soller Garcia. Do ponto de vista do êxito artístico, no que se refere a cavaleiros praticantes, o maior destaque foi para Tiago Carreiras. Esteve anunciada a estreia do bezerrista franco-mexicano "Michelito", para 18 de Junho, mas foi proibida pela Comissão de Protecção de Menores.
No que se refere a forcados, para além do feito protagonizado pelo grupo de Montemor, na corria em que pegou os seis "Murteira Grave", houve grandes actuações dos grupos de Santarém, Évora, Alcochete e Aposento da Moita. Os restantes 14 grupos que pisaram o redondel do Campo Pequeno portaram-se também com enorme valor. Estreou-se no Campo Pequeno o Grupo de Forcados Amadores de Turlock, a 20 de Agosto, na corrida "Concurso de Pegas", tendo ganho o troféu em disputa o forcado Michael Lopes, deste grupo.
Em matéria de ganadarias, para além da de Murteira Grave, distinguiram-se ainda as de Assunção Coimbra, Núncio, Pégoras e Luís Rocha.
Como nota final, mais uma vez a extraordinária afluência de público que fizeram do Campo Pequeno não só ponto de encontro de aficionados, como também o ponto de encontro de uma juventude que se identifica, cada vez mais, com o espectáculo tauromáquico.